sábado, 23 de janeiro de 2016

- A Invasão no Carnaval de Salvador -

Em 2015 o Axé Music completou 30 anos, e ao longo desses anos grandes e conceituados artistas fizeram desse ritmo um dos maiores do Brasil, e foi através deles que o carnaval de Salvador virou a maior festa popular de rua do mundo.

Tenho lido várias matérias na internet que em 2016, a prefeitura convoca a população e turistas a irem para a rua, nomes que contribuíram para esse sucesso, vão ficar de fora dos blocos por mais um ano, e vão depender da prefeitura para colocar seu trio na rua.

Os "grandes" empresários da terra, que buscam cada vez mais patrocinadores de peso que agregam mais verba aos seus blocos, estão buscando atrações da moda e que fazem sucesso na região sudeste, e o melhor são artistas que de nada ajudaram para o axé acontecer, e em muitas vezes até mesmo não gostam do ritmo.

E a qualidade da festa fica mesmo por conta dos trios "esquecidos", aqueles que são independentes, e que aguardam horas e horas o sinal da prefeitura para darem partida do seu caminhão. Artistas esses, que passam pela rua tarde da noite, hora em que todo mundo já está bêbado ou já está no final do circuito. Sem contar que depois que o trabalho é feito, alguns órgãos responsáveis pelo pagamento desses artistas simplesmente esquecem, e demoram até um ano para cumprirem com a sua obrigação.

O carnaval de Salvador em 2016, tem por obrigação celebrar a pipoca e fazer dela o papel fundamental da festa, a prefeitura de Salvador através do prefeito ACM Neto, já buscou nomes de peso e que estavam fora do carnaval há alguns anos, como é o caso de Carla Visi e Banda Mel (Com Alobened e Joka), e nomes de renome nacional como Saulo, Araketu, Sarajane e Gerônimo.

A verdade é que o carnaval de Salvador virou uma grande indústria e os "famosos" camarotes "All Inclusive", tomaram conta da festa e o que realmente podemos chamar de importante, ficou em segundo plano... A alegria, a brincadeira nas ruas, a musicalidade, o encontro de trios, perdeu espaço e os músicos da Bahia foram trocados por artistas do Sul/Sudeste/Centro-Oeste do Brasil. Nesses camarotes devia ser exigido a contratação apenas de músicos da terra, com isso grandes nomes seriam lembrados, e o melhor, teriam trabalho garantido durante toda a festa (Assim eu penso). Nesse ano de 2015, eu estive na festa e conferi que muitos camarotes homenagearam os 30 anos da axé music, e nomes que marcaram essa trajetória foram lembrados, como é o caso de Márcia Short, Márcia Freire, Ricardo Chaves, Gerônimo, Sarajane e Carla Visi. Todos sem blocos, e que precisam de trabalho, já que durante o carnaval é o melhor período para se fazer shows e engordar o cofrinho. Mas quem ganha realmente grande espaço na festa, é o funk, o sertanejo e a música eletrônica, que nesse ano de 2016 fará a maior invasão que o carnaval de Salvador já viu, nomes como Wesley Safadão, Thiaguinho, Simone & Simaria, Jorge & Matheus, Aviões do Forró, Lucas Lucco e tantos outros já estão confirmados na festa.

E muito desses artistas, já tem bloco fechado, e com mais de um dia de circuito garantido. E os artistas da Bahia? Cadê os grandes nomes que fizeram o carnaval?

Muitos deles que tinham a opção de fazer o carnaval fora da Bahia, hoje já não tem essa opção garantida. A crise financeira com que passa o nosso país, fez com que prefeituras cortassem grande verba da área da cultura e lazer, e o grande alvo foram os shows de carnaval, muitos cantores que faziam carnaval fora de Salvador, hoje precisam de uma boa opção da prefeitura para garantir o seu cachê de verão.

Mas qual o problema de puxar um trio independente no carnaval de Salvador ?

Muitas das vezes esses trios são de péssimo uso, e não atendem a necessidade do artista em fazer um bom show. Imagina, para um grande artista que cantou para milhares de pessoas, que já recebeu vários discos de diamante, se submeter a puxar um trio na madrugada do carnaval, em um péssimo horário, com uma péssima estrutura e onde os veículos de comunicação e imprensa já não estão mais na rua?

Não culpo a prefeitura e não tão pouco o governo, culpo os empresários da Bahia, aqueles que contratam, aqueles que fecham os grandes camarotes do circuito da barra, os que buscam atrações de fora, com tanta gente boa e talentosa dentro da Bahia, artistas que possuem grandes sucessos e que fazem um belíssimo show e merecem ser lembrados.
Vale investimento, vale empresariar, custear ensaios... O que vende em Salvador é axé music, samba reggae e alegria. Isso é indiscutível!

Não temos que valorizar o que vêm de fora. Quando estamos no carnaval do Rio de Janeiro não temos que escutar Samba Enredo? Porque no carnaval de Salvador temos que escutar funk? Quem vai para o carnaval da Bahia tem que amar a musicalidade e os artistas de Salvador, a festa é de Salvador, nasceu em Salvador e temos que privilegiar os artistas que vivem, moram e trabalham em Salvador.

Aos apaixonados pelo axé, peço que valorizem esses "trios independes" porque neles vão estar uma pequena parte da verdadeira história do axé.

Obs.: Nada contra artista nenhum e muito menos com ritmos musicais, mas tenho que defender o nosso amado e desvalorizado Axé Music.

Doug
Nada Como Viver!!!
23 de Janeiro de 2016