segunda-feira, 19 de março de 2018

- SÓ QUIS DIZER -

“Em Cristo somos todos irmãos”. Esse ensinamento de Deus e lema da Campanha da Fraternidade deste ano na igreja Católica é mais do que uma convocação da Igreja no Brasil, dirigida a todos os fiéis. É motivação para todos nós que sonhamos com um mundo melhor e, que para isso, iniciamos primeiramente, em nosso coração, um lugar de paz. “Fraternidade e superação da violência”. Eis um tema que representa um desafio urgente, porque quebra a inteireza da dignidade da vida. É uma questão social que requer a atenção e a participação de toda a sociedade para ser enfrentada.

À luz do Evangelho de hoje, relembramos um fato que marcou a semana e repercutiu no país e no mundo. A morte da vereadora do Psol Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes, ambos covardemente assassinados dentro de um carro no Centro do Rio de Janeiro. Reconhecida principalmente contra a violência policial e de milícias nas favelas, a morte dessa mulher negra, mãe, lésbica, moradora da Maré, feminista e ativista dos direitos humanos, também socióloga e, antes de tudo, filha de Deus, diz respeito a cada um de nós. Primeiro, porque mais do que constatar um déficit civilizatório, precisamos pensar na degradação da humanidade. Um dia antes de ser executada a tiros, escreveu a vereadora: “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?” Pergunta que ainda deve ecoar em nossa mente por muito tempo, sobretudo porque não podemos perder a capacidade de indignação diante das injustiças e mais do que isso: não podemos ser indiferentes à dor do outro.

Contemplando a Palavra e, ainda mais profundamente no tempo da Quaresma, debruçando o nosso coração na vida, morte e ressurreição de Jesus, obtemos a resposta afetuosa de que morrer não representa o fim. Preces e súplicas com forte clamor e lágrimas infelizmente fazem parte da rotina de muitas pessoas, na maioria das vezes, anônimas, que têm a sua voz calada pela opressão machista, pela guerra, pela fome, pelo preconceito, pela corrupção, pela agressividade gratuita, pelo ódio disseminado. Quando um ser humano é agredido é o corpo de Jesus que com ele sofre. Quando um ser humano é assassinado, é também nós que morremos um pouco. No entanto, como sementes, podemos renascer. E isso acontece quando não nos apegamos a nossa vida, mas a fazemos maior por meio da luta e da resistência.

Assim, foi a vida de Marielle, de muitos mártires e santos e da nossa maior referência de humanidade: Jesus! Para ele, não há nenhuma dor que não seja considerada. Ele veio trazer paz e fraternidade à terra e, cheio de ternura e compaixão, sempre viveu relações repletas de perdão e misericórdia. Como pode, então, fazermos uso do seu nome para cometermos tanta violência? Como nos reconhecer cristãos, se o desrespeito e a intolerância nos impedem de acolher e dialogar com o nosso próximo? É inadmissível experimentar o amor de Deus e ser conivente com práticas excludentes, injustas ou preconceituosas. Que a vida de tantas outras Marielles nos ensine a ousadia de lutar por igualdade, por respeito, por inclusão, na certeza de que os frutos serão eternos, pois a luta pelo bem nunca é em vão. E que jamais, em tempo algum, esqueçamos esta oração, ao caminharmos: “Ó Senhor, não me afasteis de Vossa face nem retireis de mim o Vosso Santo Espírito!”

Doug
Nada Como Viver!!!
19 de Março de 2018