domingo, 27 de março de 2016

- O ADVOGADO QUE SALVOU UM CASAMENTO APENAS COM UM BILHETE -

Meu blog está longe de ser um portal de notícias, mas me deparei nesse feriado com uma notícia antiga (Fevereiro de 2016), sobre um advogado que salvou um casamento com apenas um bilhete.
Achei tão bacana a atitude desse advogado que pensou no casal e não causa ($)que resolvi publicar e compartilhar com vocês:

O advogado Rafael Gonçalves não se importou em perder uma cliente. Mas ele ganhou a felicidade de unir um casal em crise. Desde então, o jurista de São Sebastião do Paraíso (MG) virou uma espécie de 'conselheiro amoroso' após contar a história em seu perfil no Facebook.

Em entrevista a um certo portal da internet, o advogado, que exerce a profissão há dois anos, explicou que foi procurado por uma mulher que queria dar entrada no divórcio. Ele afirma ter estranhado o fato de ter sido procurado por ela, pois é comum que mulheres recorram a advogadas nesse tipo de situação.

Enquanto conversavam, ele notou que o divórcio talvez não fosse a melhor solução para aquele casamento. "Vi que ainda havia um carinho", explica. "Ela contou que ele tinha deixado de ser a pessoa que era antes do casamento, que não a surpreendia mais e que havia mudado, mas que ainda gostava dele".


Diante disso, ele fez uma proposta. No papel em que anotou os documentos necessários para o processo legal de separação, Rafael escreveu também quatro perguntas que a mulher deveria se fazer antes de prosseguir. "Expliquei as perguntas, e disse para ela pedir para o marido responder também", relembra ele.
Com perguntas como "eu fiz tudo para salvar o meu relacionamento", ele queria propor uma reflexão ao casal e evitar que tomassem uma decisão precipitada em tempos de crise conjugal. Caso ela respondesse ao questionário e ainda considerasse que o divórcio era, sim, a solução, ela deveria voltar ao escritório para iniciar o processo.

Dias depois, o advogado ficou surpreso ao receber uma visita no escritório. "Ela voltou para agradecer com o marido e devolver o papel", diz ele. O casal havia percebido que enfrentavam uma crise momentânea, que poderia ser resolvida pelos dois.

Diante da repercussão da história, que teve mais de 12 mil compartilhamentos na rede social, Rafael garante que somente fez o que aprendeu na faculdade: intermediar um conflito e ajudar a resolvê-lo antes de seguir para o campo jurídico - e sem cobrar um centavo por isso. "Perdi um cliente, mas ganhei um casal de amigos", diz ele. "Ficou assustado de ver as pessoas se impressionaram tanto, porque as pessoas deveriam ser boas o tempo todo".

Repare os Conselhos


O advogado, que estuda para tornar-se juiz, conta que tem o costume de compartilhar casos interessantes em sua conta na rede social, mas dessa vez a repercussão foi maior.

Depois que a história começou a ser espalhada, Rafael passou a receber centenas de mensagens - nos comentários, por e-mail e WhatsApp - a maioria sobre relacionamentos em crise.

O advogado diz que essa não é a primeira vez que consegue ajudar um casal dessa forma, e que, quando percebe que ainda há solução, aconselha tentar de tudo antes de dar entrada no divórcio. "Você tem que tentar até a última opção", afirma ele.

Para quem está prestes a casar, Rafael dá um conselho que pode salvar o casamento em um momento difícil: "Pegar uma folha e escrever ali todos os motivos que fizeram os dois chegarem ao casamento. Anotar as brigas, momentos bons e quando superaram dificuldades", indica ele. "Num momento de crise, basta pegar a folha e relembrar isso".

O jurista ainda afirma que as pessoas não devem deixar ninguém 'meter a colher' no relacionamento, que cabe apenas aos envolvidos. "Eles não devem se deixar influenciar por amigos e colegas, principalmente por aqueles que são divorciados e costumam 'puxar os outros'", esclarece ele. "Só podem influenciar o relacionamento aqueles que farão parte dele para sempre: o casal e os filhos", concluiu ele.

O mundo precisa de mais pessoas como esse Advogado Rafael que antes de profissional, é um ser humano que pensa no bem estar alheio.

Rafael Gonçalves, como diria o Wesley Safadão: "Quer saber? Palmas pra você!!!"

Doug
Nada Como Viver!!!
27 de Março de 2016

sexta-feira, 25 de março de 2016

- CARTA AO SECRETÁRIO DE DERITOS HUMANOS -

Sr Ezequiel Teixeira,

Hoje eu acordei, ao lado do meu marido, com quem vivo há 2 anos, com a notícia de que o senhor acredita na cura gay.
Eu, gay, nunca acreditei nisso. E nunca acreditei porque tenho consciência de que não estou doente.
Desde muito pequeno "sentia que era diferente dos outros meninos". Sinto-me obrigado a colocar essa frase entre aspas porque é algo que foi dito muitas vezes, por muitas pessoas que, assim como eu, não se sentem doentes.
Muitos anos antes do meu nascimento, e acredito que do senhor também, em 1948, o homossexualismo passou a existir na Classificação Internacional de Doenças (CID) sob código 320, dentro da categoria de Personalidade Patológica, na subcategoria de Desvio Sexual.
Acredito que o senhor saiba que no dia 17 de maio de 1990 o homossexualismo deixou de fazer parte da CID. Eu não lembro desse marco, tinha apenas 8 anos, mas lembro que naquele mesmo ano perdemos Cazuza. Quem queria um Cazuza diferente daquele que tivemos?
Não, não queremos cura alguma.
Aos 13 anos comecei a me relacionar com homens mais velhos, já que os meninos da minha idade não contavam uns aos outros sua orientação sexual, isso era em 1994. E lendo o jornal de hoje, já nem sei se posso dizer que era uma época mais careta, mas certamente menos esclarecida. Eu não tinha abertura para conversar com meus pais, amigos, escola.
Por vezes, me arriscava a entrar no carro de pessoas que pouco conhecia em busca de alguma aventura. Outras vezes apenas suprimia meus desejos e as lembranças hoje são de uma infância e adolescência muito tristes, tentando esconder de todos que eu conhecia quem eu realmente era.
Em algum momento eu consegui me libertar do julgamento de pessoas que acham que a homossexualidade (como passou a ser chamada, porque não se trata de uma doença, e então não precisa de cura) seja algo errado, um desvio, uma escolha, e passei a ser feliz.
Hoje, casado no papel, com minha família constituída e com planos de adotar em breve uma criança, digo com total certeza que não há nada a ser curado aqui.
Olhe para a foto da minha família e me diga, sinceramente, se tem algo a ser curado aqui.


É uma delícia ser gay, Sr Ezequiel, acredite.
Aliás, é uma delícia poder ser quem você é ou quer ser.
O único momento em que eu me sinto entristecido, é quando abro o jornal e vejo que uma pessoa que está no cargo de Secretário de Direitos Humanos fazendo declarações como essas que todos lemos na manhã de hoje.
Mas não há cura para o mau-caratismo e a sem-vergonhice, não é mesmo?
Que vergonha em ter o senhor como Secretário. Que vergonha!


Doug
Nada Como Viver!!!
25 de Março de 2016

domingo, 13 de março de 2016

- HÉTERO PASSIVO É TENDÊNCIA! -

Um homem heterossexual pode sentir prazer sendo penetrado por outro homem? Um homem que sente prazer sendo penetrado por outro homem pode ser chamado de heterossexual?

É importante lembrar que, no Brasil, segundo os estudos antropológicos, até a década de 80, os homens se dividiam em: machos e bichas, sendo o macho o que penetrava outros homens e as bichas os sujeitos que eram penetrados.

O homem que penetrava não perdia o status de macho, inclusive em algumas situações tal fato era uma prova de sua virilidade. A partir dos anos 80, com a popularização dos discursos científicos oriundos da Europa, uma nova concepção de sexualidade ganha amplitude no Brasil, em que os sujeitos não são mais divididos em machos e bichas, mas em heterossexuais e homossexuais, sendo que os heterossexuais são os que desejam e mantém práticas sexuais com o sexo oposto, enquanto os homossexuais com o mesmo sexo. Uma concepção não substitui a outra e, embora a segunda passe a ter mais força, as duas continuam operando no Brasil.

É comum ouvir casos de homens considerados heterossexuais que penetram outros homens, isto é, de alguma forma, nossa cultura mantém uma certa permissividade ao homem considerado heterossexual penetrar um outro homem, desde que não tenha ocorrido algum envolvimento emocional e afetivo e os atos não tenham sido sistemáticos (constantes).

Esse tipo de homem, heterossexual, masculinizado, foi e é considerado o ápice do desejo de muitos homossexuais, símbolo de uma masculinidade verdadeira e autêntica. Não obstante era preciso que, além de masculinizado, esse homem fosse ativo, isto é, um “comedor”, mas eis que agora começa a surgir uma categoria de sujeitos que se dizem heterossexuais passivos.

Quem é esse homem hétero-passivo? São homens que se identificam com a heterossexualidade (evidente), mantém relações afetivossexuais com mulheres (essas relações podem ser através de vínculos matrimoniais ou casuais, com ou sem vínculo afetivo), rejeitam qualquer traço de feminilidade em si ou nos parceiros, sentem prazer penetrando mulheres, mas nas relações com homens querem ser penetrados.

Os heterossexuais passivos não penetram homens, são sempre penetrados. Os que mantém relações sexuais penetrando e sendo penetrados por outros homens se denominam de heterossexuais versáteis, que é uma categoria bem mais comum.

Não sou tão ingênuo de acreditar que em outros momentos da história esses homens não existissem, mas, hoje, com a popularização da internet, utilizada como mecanismos de busca por parceiros, esses sujeitos parecem aumentar e formular/textualizar uma identidade: a de hétero-passivo.

Onde se encontram tais sujeitos? Minha aposta é que em muitos espaços de sociabilidade, principalmente em bairros populares (mas duvido muito que seja apenas nestes), ocorrem interações que não podem ser explicadas pela dualidade heterossexual versus homossexual ou ativo versus passivo.

Foi nos sites de relacionamentos manhunt e disponível que analisei muitos desses perfis. Alguns diziam que buscavam novas experiências e que estavam dispostos a serem penetrados; outros sinalizavam que eram experientes e que desejavam serem apenas passivos nas relações sexuais.

Outra forma de sociabilidade entre esses homens ocorre nos chats do UOL (tomara que o Pastor Feliciano não descubra e denuncie à Polícia!). Existem salas específicas e uma delas é destinada a sexo entre homens heterossexuais.

Na maioria das vezes essas interações se iniciam com diálogos sobre o sexo com mulheres, depois começam a falar de masturbação entre homens e, por fim, sexo anal entre homens.

Encontrei também no Yahoo Respostas, um fórum que tem por objetivo trocar informações entre usuários da internet, a seguinte dúvida de um usuário:

Sou casado e tenho uma vida hetero prazerosa. Só que desde 5 ou 6 anos de idade dou minha b… e preciso disso. Não sei se é homossexualismo ou vício… Só sei que é uma necessidade. Minha mulher não sabe e nem quer saber desses meus desejos. Não sinto atração por homens, só por pênis, por isso nunca tive um namorado, nem fui ativo com homem… Acho que sou um bissexual diferente e não sei o que fazer”.(Post completo e com respostas).

O sujeito acima não consegue um lugar identitário para seu desejo. Sente prazer com o sexo heterossexual, mas não consegue evitar o desejo de ser penetrado.

Um caso explorado midiaticamente é do ex-pastor evangélico da Igreja Universal, Alexandre Senna, que tornou-se ator pornô passivo, após o pedido da esposa, que não aceita que ele penetre mulheres, mas também porque seu pênis não está no padrão da indústria pornô. As pessoas que comentam as notícias nos sites e blogs sempre dizem que o mesmo é um homossexual enrustido, pois não concebem um heterossexual fazendo sexo anal passivo.

O que podemos dizer sobre esses sujeitos? O mais comum e pouco reflexivo, mas que tem lá sua verdade, é pensarmos no modo com as representações sociais negativas da homossexualidade podem fazer com que um grande número de sujeitos recuse tal identidade. Acho, contudo, que isso não responde completamente a questão.

É mais produtivo invertermos a pergunta: o que esses sujeitos dizem a nós? Essa questão faz muita diferença pois, se tomarmos os sistemas classificatórios para explicarmos os sujeitos, aniquilamos as diferenças, enquadrando-os em poucas possibilidades. Ao contrário, se utilizarmos as experiências e questionarmos os sistemas classificatórios, podemos problematizar o quanto a divisão heterossexual, homossexual e bissexual é limitante e não dá conta de explicar a sexualidade humana, que é complexa e atravessada por diferenças e singularidades.

Vale ressaltar que, mesmo recusando a homossexualidade, esses sujeitos assumem uma outra identidade problematizada, considerada anormal até por aqueles que aceitam a homossexualidade. Constroem, também, uma identidade considerada desviante.

É bem certo que a heterossexualidade confere um status de privilégio, no entanto, a passividade marca negativamente o homem. Poderíamos pensar numa tentativa de limpar a passividade de um status negativo e histórico? Talvez a masculinidade se transforme em um padrão cultural tão fortemente exigida que mesmo na passividade seja preciso estar dentro de tais padrões.

Podemos dizer que essa identidade hétero-passivo é uma invenção? Sim, toda identidade o é! A divisão hétero versus homo, ampliando para bissexualidade, é também uma invenção da ciência oitocentista, uma ficção. Uma criação que, apoiada no positivismo, acredita que poucas palavras conseguem dar conta da paisagem sexual. Uma limitação e higienização da nossa singularidade.

Nós estamos, no entanto, tão impregnados dessa construção binária que, se um homem se envolve com outro, nós questionamos o sujeito e nunca a divisão binária. Por que não questionamos essa ideia de que os heterossexuais não sentem prazer anal? Será que é possível mesmo que exista um grupo tão hegemônico em termos quantitativos que ignore determinada área do corpo?

Não estou desconsiderando (digo mais uma vez) o modo como o preconceito dificulta uma assunção à homossexualidade, mas considerando que, além de se proibir uma identidade, se interdita também o corpo, isto é, há uma castração anal, um interdito sobre o ânus.

Bem, enquanto a gente fica tentando responder essas questões, e por mais que alguns queiram simplificar tudo, achando que o mundo se divide em duas ou três possibilidades, os sujeitos vão vivendo suas fantasias, cada um com uma história singular, que problematiza nossas concepções e classificações.

Por essas e outras, hétero-passivo é tendência e está na moda!

Doug
Nada Como Viver!!!
13 de Março de 2016

domingo, 6 de março de 2016

- EX GAYS... ATÉ QUANDO? -

Pensei muito em voltar a escrever sobre o tema e em começar fazendo uso de uma situação difícil que uma conhecida minha está passando – mas não posso me furtar a apresentar a enganação que, baseadas em um livro arcaico e em dogmas ultrapassados, tantas igrejas e tantos cristãos insistem em defender: a ideia de que é possível ser “ex-gay”.

Este ano, publiquei, não sem um certo prazer, uma nota no site A Capa que informava que a Exodus International, uma das maiores associações religiosas de “ex-gays” do mundo, reconheceu que a reversão da orientação sexual não é possível e que, nesse sentido, a homossexualidade é uma “cruz” que cabe ao “ex-gay” carregar e contra a qual lutar ao longo de sua vida, no projeto de viver de acordo “com a vontade de Deus”, quer seja: casando-se e tendo mulher e filhos. Não é o ideal, mas é um passo na direção mais sábia.

Muitos aqui sabem que eu já fui um gay católico, musico e vocalista de banda gospel – já tentei a via da oração por muitos anos, já fui um adolescente deprimido e em crise por causa disso. Também já tive amigos que tentaram outras vias mais “concretas”, até mesmo se internando em fazendas evangélicas que praticavam verdadeiras atrocidades psicológicas. Outros entraram em “grupos de aconselhamento” e outros ainda tentaram a via do exorcismo.

Graças a Deus (olhem a ironia), eu me livrei de tudo isso, nunca cheguei a esses extremos e, liberto, hoje sou feliz com minha sexualidade – mas de todos os que vi se declararem “ex-gays”, sempre foi essa a minha percepção. Na verdade, eles nunca deixavam de ser gays, ou seja, de sentir atração por homens. Recorrendo a expedientes de repressão psicológica ou de matriz religiosa, deixavam de praticar o sexo com os homens e, em nome de suas convicções, seguiam uma vida de comportamento heterossexual, tendo, porém, de se policiarem contra o sexo gay como um alcoólatra em tratamento: “não se pode dar o primeiro gole”.

A questão que se impõe é... Se um alcoólatra que não bebe mais pode ser chamado de “ex-alcoólatra”, por que um gay que não transa mais com homens não pode ser chamado de “ex-gay”? Em que pese o fato de que já vi alcoólatras dizendo que não existe “ex-alcoólatra” – você sempre será um, ou seja, terá aquele problema com o álcool, o que muda é se está sóbrio e abstêmio ou não –, eu responderia que a questão é de conceito.

Por má informação, ou má-fé, boa parte da população não compreende que o conceito de orientação sexual está ligado ao desejo, tomado em sua acepção ampla e ao longo da vida. Orientação tem esse nome porque indica a quem o desejo sexual, incluindo sua face afetiva, está orientado, dirigido, direcionado, e é isso que define se a pessoa é hétero, homo, bi ou pan, não o sexo da pessoa que está ao lado na cama.

Em suma, como costumo explicar, eu faço sexo com homens porque sou gay – não sou gay porque faço sexo com homens. Da mesma forma, um homem hétero faz sexo com mulheres por ser homem hétero, de antemão – não é pelo fato de praticar essa modalidade de sexo que ele se torna hétero.

O ato sexual-genital é, portanto, o resultado possível e provável da orientação sexual, não sua causa: o desejo antecede o ato. Tendo isso em vista, se o desejo da pessoa está orientado para o mesmo sexo, ela é homossexual, ou gay – independentemente de concretizar esse desejo mediante relações sexuais ou não. Gays (como héteros, bis e pans), portanto, podem ser celibatários, abstêmios e até mesmo se relacionarem com pessoa de sexo diverso. Também podem ser virgens – e isso é relevante, porque, se o que definisse a orientação sexual fosse o ato, e não o desejo, qualquer pessoa que ainda não tivesse transado não seria “nada”, não teria orientação sexual, o que é efetivamente um absurdo.

Trazendo isso para o que estamos discutindo aqui, então, o “ex-gay” não é “ex-“ porque o desejo pelo mesmo sexo fatalmente estará ainda, ou sempre, como admitiu a Exodus, presente. Não é por ter uma mulher e filhos com ela que, por isso, ele deixou de ser gay: basta apenas que o desejo pelo mesmo sexo esteja lá, como parte integrante da personalidade – e a verdade nua é crua é que, se você tem de lutar continuamente para não ceder a uma determinada vontade, ou para reprimi-la, a lógica impõe a realidade de que essa vontade existe, em primeiro lugar.

A descoberta de que essa “vontade” está lá não costuma ser um processo fácil, mesmo para aqueles que não são religiosos. Vivemos em uma sociedade homofóbica, em que destoar do padrão “homem com mulher” equivale a sofrer pressões e repreensões, enfrentar preconceitos – inclusive os nossos próprios – e até mesmo atos de violência. Diante disso, não chega a ser inesperado que o gay que recentemente se descobriu assim anseie “por se tornar hétero”, porque, afinal, quem quer passar por sofrimentos?

A constatação dessa realidade faz com que muitos na igreja, e fora dela, acreditem assim que possibilitar “tratamentos”, espirituais ou não, para permitir à pessoa alcançar essa meta é uma demonstração de caridade e piedade humana – e, alguns, nutridos desse ideal de compaixão, chegam a apoiar teses como a do recente projeto de Decreto Legislativo que quer derrubar a proibição de psicólogos oferecerem tratamentos objetivando a “cura da homossexualidade”, em discussão no Congresso.

Existem, porém, outras três verdades nuas e cruas. Uma delas é que a ciência – que deve pautar a ação do psicólogo enquanto profissional – já tentou a via da “cura”, sem sucesso, conforme demonstram bastantes evidências, que se acumulam de décadas atrás até hoje. A segunda é que esses tratamentos, e incluo aqui os espirituais, costumam mais piorar do que melhorar a psique das pessoas. Reprimir um desejo legítimo não acontece sem se pagar um preço – e não é difícil imaginar quão pode ser difícil e tensa uma vida em que o policiamento contra uma força tão legítima e primária é a regra.

A terceira verdade nua e crua é que basta arranhar a superfície para saber que não é a homossexualidade o problema, mas a homofobia: se a sociedade facilitasse a vida dos gays, em vez de os recriminar, se os pais deixassem o amor por seus filhos falarem mais alto, quem negaria que, em vez de tentarem “virar héteros”, tantos gays não tentariam viver uma vida plena e harmônica com sua sexualidade, sem sofrerem perseguição por causa disso?

No entanto, quero aqui falar do segundo ponto, o preço por viver uma vida reprimindo um desejo. Para isso, vou retomar o primeiro parágrafo: por que é uma enganação que as igrejas e os cristãos defendam que é possível ser “ex-gay”? Porque, além de ser, no mínimo, questionável falar em “ex-“, diante dos conceitos esclarecidos até aqui, muitas vezes, esses mesmos cristãos e suas igrejas não sabem, e nem mesmo fazem questão de saber, do preço que pagam essas pessoas.

A história de uma conhecida minha, que me motivou a escrever este artigo, não será revelada em detalhes, a fim de manter intacta sua privacidade e seu sofrimento. Basta saber que, depois de ter se casado e ver sua vida sexual com o marido com quem tivera filhos decrescer em qualidade por um certo período de tempo, pelo qual ela culpava a si mesma, descobriu que seu marido a traiu com outro rapaz. Os personagens são evangélicos.

Não se pode negar o sofrimento por que ela passou e tem passado, embora tenha tido a grandeza de enxergar nisso uma libertação: não era “culpa” dela, afinal – e, aqui, a tendência dos moralistas de plantão é enxergar no ex-marido um pulha, que não soube honrar o casamento e destruiu a família com as próprias mãos.

Uma análise mais aprofundada, no entanto, mostra que essa é uma situação em que não existem verdadeiros vilões. Criado em uma família evangélica e extremamente conservadora, o marido – de quem sempre desconfiei graças a meu “gaydar” –, certamente não teve uma vida mais fácil, ainda mais diante dos olhos de quem, como eu, descobriu na própria carne como é difícil se perceber gay e ser evangélico.

Como terá sido a vida desse moço, obrigado a recusar a si mesmo o benefício de procurar uma vida mais completa condizente com seu desejo, em nome de estar fazendo o que “Deus queria”? E como deve estar sendo essa situação, ao ter percebido que, pelo fato de o desejo, por tanto tempo reprimido, ter cobrado a fatura que ele não conseguiu pagar, ter magoado tantas pessoas ao mesmo tempo, inclusive a mulher que certamente amou (sim, porque há muitos casos de gays que foram casados com mulheres que efetivamente amaram suas esposas, até por existir, nos ensinam os gregos, mais de um tipo de amor)?

Agora, não haverá ninguém, especialmente em sua igreja, para ver seu lado e apoiá-lo. Desprezado por todos, culpando a si próprio e sozinho, ele ainda poderá enfrentar a ira evangélica e da família, se descobrirem a realidade dos fatos, por ter cedido aos “desejos de Satanás”, quando Satã não tem nada a ver com a história. O que há aqui, para quem, como eu, já está mais do que escolado, são seres humanos às voltas com suas escolhas, algumas delas indevidas frente ao desejo e sua própria natureza, e uma religião patentemente insensível a essas demandas, que prefere o sofrimento calado de um homem para manter as aparências e dogmas do que propiciar a esse ser humano uma alternativa de harmonizar sua sexualidade e seu sentimento religioso. Será que ele é mesmo o pulha?

Na minha concepção, se minha conhecida poderá se recuperar com certa velocidade do baque – quem sabe, encontrando outro homem que a faça feliz e a deseje sexualmente de verdade –, a situação do marido é bem mais complicada, e, se ele não tiver ajuda para se libertar dos dogmas religiosos, pode piorá-la, envolvendo-se em “tratamentos”. Quem sabe, caindo em intensa depressão, não tente uma alternativa ainda mais “concreta”, que poderia atender pelo nome de drogas ou suicídio...

Essa verdade nua e crua e feia é só uma das que se escondem por trás das histórias dos “ex-gays”, mas, convenientemente, muitos pastores e suas igrejas fazem questão de não abordá-la em seus cultos evangelísticos transmitidos nas televisões de concessão pública. Quem conhece esse lado somos nós, outros gays, que pouco temos voz, e estamos igualmente sozinhos, procurando ajudar aqueles que passaram por martírios que, às vezes, nós também já experimentamos.

Certamente, o marido será apresentado como um “falso crente”, quando a única coisa falsa aqui é o dogma religioso e sua promessa de “ex-homossexualidade”, ou ainda, a falsa promessa de que a felicidade real só se encontra em um casamento hétero, “de acordo com a vontade de Deus”.

A história que acabo de relatar me fez lembrar de outra, talvez o primeiro caso de “ex-gay” com quem tive contato, quando eu contava com cerca de 18 anos. Jhonata era o nome dele, gay efeminado que costumava ir a certa praça em minha cidade “caçar", companhias masculinas.

Soube por amigos em comum que Jhonata se convertera à CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL e, após se submeter a “aconselhamentos” e sessões que beiravam o exorcismo, estava noivo de uma mulher da igreja. Tentei argumentar com ele, mas diante de sua convicção inabalável, não me restou alternativa a não ser me resignar – apenas para, cerca de nove meses depois, ter a notícia de que Jhonata, já casado, novamente procurando companhias masculinas no mesmo lugar.

Uma conversa que eu tive com ele, foi bastante reveladora. Deprimido, ele argumentou ter tentado de tudo, sem sucesso, e que “esse negócio de cura não existia”. “Pois é”, respondi eu, “mas agora você envolveu outra pessoa, que está em casa te esperando. Como é que fica?”. “Como é que fica”, pergunto eu, se, numa dessas, ele sofresse uma violência, ou se, tomado de intenso e cego desejo, descuidasse de sua proteção e pegasse algo e o transmitisse à mulher?

Novamente, veríamos o Jhonata como o vilão, que enganou a todos... Mas será que não foi ele o enganado? E será que não foram os fiéis da igreja os enganados? Quem duvida de que Jhonata foi apresentado como um caso de “restauração pelo poder de Deus”, por “ter sido gay” e agora estar casado? Talvez ele fizesse até uma ponta no programa de Silas Malafaia – e, no entanto, novamente, somos nós, outros gays, que temos de lidar com esse lado escuro e feio do que as igrejas gostam de mostrar em seus shows evangélicos.

Jhonata e o ex-marido de minha conhecida não eram e não são pessoas de má índole, como certamente não o são suas mulheres. Podem ter “errado”, se considerarmos “erro” a “traição” sem levar em conta seus motivos – operação esta que eu, particularmente, considero o verdadeiro erro –, mas eram humanos devotos, convictos da ação do evangelho em suas vidas e de seguirem o desejo de Deus.

Só nos resta perguntar que Deus é esse, que deseja e prefere a mentira em vez da verdade, a aparência em vez da harmonia, a traição em vez da cumplicidade, o dogma em vez da felicidade, o sofrimento em vez da plenitude, como se a homossexualidade fosse um erro, em vez de uma via possível para se estar bem consigo mesmo... Um Deus que prefere ver um “ex-gay” sofredor e em uma luta inglória a um gay feliz, arrastando junto ao primeiro uma família inteira. Se é esse o Deus que a igreja acredita, lamento: o meu não é assim – e ainda me perguntam por que eu decidi abandonar a igreja, enquanto outros querem restaurar a “cura gay” psicológica via canetada no Congresso...


Doug
Nada Como Viver!!!
06 de Março de 2016

sábado, 5 de março de 2016

- POR QUE COM ELE E NÃO COMIGO? -

Você conhece Wendell Lira? Ou, já tinha ouvido falar nele antes de janeiro de 2016?

Pois, esse ilustríssimo senhor desconhecido para muitos é o brasileiro que ganhou o prêmio Puskas da FIFA pelo gol mais bonito de 2015, concorrendo com mais nove feras do futebol mundial, estando na mesma lista de finalistas, Messi e Tevez entre outros.

Esse atacante de 27 anos jogava, na ocasião, pelo Goianésia, time da série D, participando de um campeonato estadual. Ele, como a maioria, já enfrentou dificuldades comuns a qualquer profissional do esporte: lesões, desemprego, técnicos sem preparo, adversários truculentos entre outras.

Porém, um golaço de meia bicicleta, marcou a vida desse jogador para sempre. Sorte? Oportunidade?

Quantos milhares de jogadores no mundo inteiro deve ter pensado; “porque ele e não eu

Essa situação se repete todos os dias no ambiente profissional, apenas não é divulgado na imprensa. Alguém que se destaca pelo resultado, ultrapassando muitos outros que estavam na sua frente seja por experiência seja por tempo de casa. Novamente podemos pensar: Sorte? Oportunidade?

Para refletir sobre essas situações, vamos ver o que significam essas duas palavras:
Os sinônimos de Sorte, segundo o Aurélio, são: acaso, fortuna ou fatalidade. Ou, circunstâncias ou acontecimento por acaso que dá certo, e ainda evento aparentemente fora do nosso controle que influencia nossas vidas. Será que esses significados se aplicam a um jogador ou a um profissional que se capacita, que corre atrás de seus objetivos dentro do seu ambiente de trabalho?

Vejamos agora, os sinônimos de Oportunidade: chance, conveniência, ocasião favorável a que algo aconteça ou, por fim, situação nova que traga benefícios. Ora, qualquer jogo é favorável a que algo aconteça, ou podemos pensar em um jogo de futebol como uma situação nova para um jogador?
Quero mostrar que é mais fácil falar em sorte e oportunidade do que em esforço, foco, preparação, dedicação, entusiasmo, empenho, interesse, proatividade, autoconfiança, luta e outras iniciativas ou atitudes que são de responsabilidades de cada um.

Se um profissional pensa que seu resultado profissional depende de sorte ou de oportunidade, então que ele deve fazer é esperar que uma delas caia na sua mão. Torcer para não demorar muito e se colocar como vítima quando ela não acontecer!

Por que Wendell Lira? Porque ele fez por onde. Ou, você acha que qualquer jogador conseguiria no meio de um jogo dar uma volta com o corpo e fazer um gol de bicicleta? Ele, como muitos outros profissionais em áreas diversas, se prepara continuamente para fazer acontecer. Sorte ou esforço? Oportunidade ou dedicação?

#Reflita

Doug
Nada Como Viver
05 de Março de 2016