sexta-feira, 25 de março de 2016

- CARTA AO SECRETÁRIO DE DERITOS HUMANOS -

Sr Ezequiel Teixeira,

Hoje eu acordei, ao lado do meu marido, com quem vivo há 2 anos, com a notícia de que o senhor acredita na cura gay.
Eu, gay, nunca acreditei nisso. E nunca acreditei porque tenho consciência de que não estou doente.
Desde muito pequeno "sentia que era diferente dos outros meninos". Sinto-me obrigado a colocar essa frase entre aspas porque é algo que foi dito muitas vezes, por muitas pessoas que, assim como eu, não se sentem doentes.
Muitos anos antes do meu nascimento, e acredito que do senhor também, em 1948, o homossexualismo passou a existir na Classificação Internacional de Doenças (CID) sob código 320, dentro da categoria de Personalidade Patológica, na subcategoria de Desvio Sexual.
Acredito que o senhor saiba que no dia 17 de maio de 1990 o homossexualismo deixou de fazer parte da CID. Eu não lembro desse marco, tinha apenas 8 anos, mas lembro que naquele mesmo ano perdemos Cazuza. Quem queria um Cazuza diferente daquele que tivemos?
Não, não queremos cura alguma.
Aos 13 anos comecei a me relacionar com homens mais velhos, já que os meninos da minha idade não contavam uns aos outros sua orientação sexual, isso era em 1994. E lendo o jornal de hoje, já nem sei se posso dizer que era uma época mais careta, mas certamente menos esclarecida. Eu não tinha abertura para conversar com meus pais, amigos, escola.
Por vezes, me arriscava a entrar no carro de pessoas que pouco conhecia em busca de alguma aventura. Outras vezes apenas suprimia meus desejos e as lembranças hoje são de uma infância e adolescência muito tristes, tentando esconder de todos que eu conhecia quem eu realmente era.
Em algum momento eu consegui me libertar do julgamento de pessoas que acham que a homossexualidade (como passou a ser chamada, porque não se trata de uma doença, e então não precisa de cura) seja algo errado, um desvio, uma escolha, e passei a ser feliz.
Hoje, casado no papel, com minha família constituída e com planos de adotar em breve uma criança, digo com total certeza que não há nada a ser curado aqui.
Olhe para a foto da minha família e me diga, sinceramente, se tem algo a ser curado aqui.


É uma delícia ser gay, Sr Ezequiel, acredite.
Aliás, é uma delícia poder ser quem você é ou quer ser.
O único momento em que eu me sinto entristecido, é quando abro o jornal e vejo que uma pessoa que está no cargo de Secretário de Direitos Humanos fazendo declarações como essas que todos lemos na manhã de hoje.
Mas não há cura para o mau-caratismo e a sem-vergonhice, não é mesmo?
Que vergonha em ter o senhor como Secretário. Que vergonha!


Doug
Nada Como Viver!!!
25 de Março de 2016