segunda-feira, 24 de abril de 2017

- GAY x IGREJA -

Não existe cura gay. Ex-gay é uma coisa tão real quanto vaca que voa. Vai por mim! Lutei contra o meu desejo por muitos anos, tempo que dediquei à obra de Deus como vocalista de Banda Gospel. Sim, eu sou gay. Mas também ministrei louvores para muitas pessoas. Dei meu tempo e dinheiro à Igreja. Sempre que achava que estava curado, o desejo voltava.
Claro que, na época, eu tentava passar outra imagem para as pessoas. Isso foi nos anos 2000, quando eu ainda me debatia contra minha própria homossexualidade. Nasci em uma família católica tradicional e cresci acreditando que ser gay fazia de mim uma pessoa de segunda categoria. Achava que iria para o inferno. Por isso, fiz o que estava ao meu alcance para me reprimir e cumprir o que se esperava de mim: casar e ter filhos.
A verdade é que sei que sou gay desde criança. Eu não sabia o nome que isso tinha, mas já achava os meninos muito mais interessantes que as meninas. E não tinha nada de sexual nisso, porque aos 6 anos de idade eu nem sabia para que servia meu pintinho. Era só para fazer xixi mesmo. Nunca tive diálogo com meus pais referente a esse assunto, apenas escutava do meu pai que ser "viado" não era legal e que eu tinha que ser "macho", "comedor".

Assim cresci com medo, porque desde criança sabia que era feio ser gay. Que bicha era tudo pervertida, moralmente degenerada. Toda minha educação foi machista e homofóbica: em casa, na escola e na igreja. E, se dependesse disso, eu seria hoje o macho alfa. Mas não dá para lutar contra o próprio desejo.
Minha primeira experiência sexual foi aos 13 anos. Estava brincando com amigos e, de repente, um vizinho meu que regulava idade comigo me chamou para brincar separado, senti que ali tinha alguma coisa, que eu não sabia o que era, mas queria. A gente transou. Se é que podemos chamar de transa aqui que nem a gente sabia direito o que estava acontecendo. Só sabíamos que era errado. Foi consensual e muito gostoso.
Me recordo também que nessa época, a mãe de um melhor amigo meu, me molestou, abusou de mim sexualmente, mas tenho victa ciência que não aconteceu nada. Nem ereção eu tive.

Já não tocava mais na igreja, nessa época, com 16 anos, eu era D.J. Fazia as noites, abandonei o catolicismo. Montei minha equipe de som, trabalhava nas madrugadas com a música, trabalha de dia em uma escola de idiomas e estudava a noite.

Vivi essa turbulência de vida por 4 anos sem tempo de ligar para sexo. até que tive uma estafa mental e tive que abrir mão da música, por pouco tempo, pois meses depois fui convidado a ser tecladista de uma banda de Pagode (Kurt-Samba) no qual toquei por um ano. Depois virei produtor musical de banda de Pop Rock (Alternativa Z). Sim, nessa época o meu desejo sexual estava aflorado, tinha uns lances, mas nada de namoro sério. Tudo as escondidas.
Deixei a Alternava Z e fui convidado novamente a tocar na Igreja.
Cheguei pra tocar carregando o fardo de ser gay, mas não revelei meu “problema” a ninguém. Os músicos da banda me ofereceram conforto e acolhimento.
Desse dia em diante, já com meus estudos concluídos, vivia atarefado. Muita missa pra tocar, começamos a tomar forma de banda profissional, começamos a tocar fora, gravamos CD, já fazíamos rádio e TV. Por anos, fiquei tão envolvido com a obra que parei de pensar em sexo novamente. Achei que estava curado. Mas meu desejo não deu trégua por muito tempo. Conheci um rapaz em uma de nossas apresentações e acabamos ficando. Tentei me afastar, mas estava apaixonado. Chorava toda noite perguntando a Deus por que tinha nascido assim e, já que tinha, por que isso era errado. Ficamos outra vez, mas eu achava que tinha que me esforçar mais para virar heterossexual.

Na minha cabeça da época, essa “recaída” se devia ao fato de eu ser novo na igreja. Acreditei que o que me faltava era uma relação sexual adequada, ou seja, com uma mulher. Mas, pelas leis da igreja, eu não poderia transar namorando. “Tenho que casar”, pensei. Pouco tempo depois, comecei a namorar uma menina por vários tempos, mas cheguei a conclusão que eu estava apenas usando ela para mostrar aquilo que eu não era pra uma sociedade que só queira saber do meu talento musical.

Aos poucos, fui percebendo que o prazer que eu sentia em estar com essa minha namorada era diferente do que eu sentia por homens.
terminei meu namoro com essa garota e me aprofundei de vez ao meu ministério de música. Trabalhei para a congregação de graça por anos, porque achava que aquilo dava sentido à minha vida. Recusei ofertas de emprego e até aumento de salário para conciliar meu trabalho proprietário de uma agência de veículos que eu tinha na época. Não falo isso para me vangloriar, mas para mostrar que tentei, de coração, seguir os princípios da religião.

Estudar a bíblia para ministrar nos louvores que fazíamos me ajudou a acordar.
Antes, eu lia a Bíblia como uma verdade absoluta, sem contestação. Mas, com o tempo, a gente se aprofundava a ponto de saber que a Bíblia não é uma coisa que Deus entregou pronta na mão de alguém. Foram vários textos e alguém decidiu “este serve”, “este não serve”. Um dos livros supostamente escritos por Moisés narra a morte dele. Como é que ele poderia ter escrito depois de morrer? Psicografou?!
Demorei para formular esses questionamentos, porque a pior coisa para o religioso é ser blasfemador. E duvidar dos dogmas é pecar em pensamento. Eu dizia para mim: “Não vou pensar nisso. Eu não sou teólogo formado nem com experiência o suficiente. Depois volto a essa questão.” Mas não conseguia deixar totalmente pra lá.

Eu sabia de padres que e atacavam com coroinhas, padres que namoravam sério com outros rapazes e também de padres que saíam na noite em busca de aventuras homossexuais.
Essa situação, só agravou meu sentimento de que alguma coisa não estava certa. Eu via gays de todos os tipos. Além da musicalidade na igreja, também trabelhei com jovens por muitos anos, e uma vez veio um cara trazendo o sobrinho, que era uma bicha daquelas afetadas. Tive pena dele, um alvo fácil para o preconceito. Depois que o tio saiu da sala, ele me contou que tinha sido abusado por todos da família! Depois de sofrer tanto, o “demônio” era ele.

A produtora da banda que eu tocava, era minha amiga pessoal e uma vez ela me disse: “Doug, será que você não está se enganando? As pessoas não mudam!”. Nosso discurso era “Deus transforma. Deus te cura”. Só que isso não acontecia! E tinha muita má-fé envolvida, já que o os próprios padres se envolviam na homossexualidade e atrás do altar se dizia héteros, mas nunca mostrava o contrário.
Só resolvi assumir de vez a minha homossexualidade quando conheci meu esposo em uma balada GLS. Eu estava tentando reprimir sonhos que andava tendo com homens, mas não estava resolvendo. A gente não manda no coração da gente e meu esposo, posso dizer que foi paixão a primeira vista.

Saí do armário e da igreja!

Em 2010, procurei as autoridades da igreja católica e expus minha situação e a única coisa que me pediram foi para que eu não desse na cara, uma vez que eu falava em nome da igreja em shows, louvores e missas que eu tocava.
Ainda segurei a onda na banda por mais um ano e meio, namorado as "escondidas" da mídia.
Namorei 5 anos e tenho 2 anos de casamento com meu ESPOSO.

Meus pais não me aceitam, mas tenho a ciência que pra tudo nessa vida existe um peço a ser pago e no meu caso, a minha felicidade como ser humano, seria a perca da minha família.
Sofri muito no inicio, porque sempre fui muito ligado a eles, mas hoje já me acostumei com a ausência deles.

Acredito que na cabeça do meu pai, ele acha que casa de gay tem porta giratória, de tanto homem que entra e sai. Também deve pensar que as camisinhas usadas ficavam espalhadas no corredor. Tudo bobagem!
Minha casa é uma casa de respeito, uma casa de família, até porque foi exatamente isso que eu constituí.

Se eu me arrependo de alguma coisa? E não me arrependo de nada. Me aceitar do jeito que sou me fez ver beleza na vida e nas pessoas. Sinto como se vivesse num canto iluminado do mundo. E o melhor é que não tenho que pagar o dízimo para entrar.

Doug
Nada Como Viver!!!

24 de Abril de 2017