terça-feira, 20 de dezembro de 2011

-BONS FILMES NA NOITE CHUVOSA DE SEGUNDA FEIRA-


Ultimamente tenho recebi com freqüência a visita importuna da Insônia. E ontem, ela veio novamente me visitar, pra salvar o tédio da madrugada, optei por assistir dois filmes bacanas.
Um foi "Número 23" que me foi indicado por um amigo. Valeu Breninho!
Não é o melhor thriller de suspense que já vi mas dá pro gasto.
O filme se apóia na lenda urbana que confere ao número 23 uma série de coincidências, tragédias e mistérios.
Como exemplo dessa paranóia, o ataque ao WTC que ocorreu no dia 11 de setembro de 2001. Somados os números dessa data (11 + 9 + 2 + 0 + 0 + 1) chegamos ao 23.
Em certos momentos a história fica meio confusa e o final não é tão surpreendente como poderia ser.
Acredito que muita gente após ver este filme sai por aí fazendo contas e tentando encontrar o 23 em tudo.

Acho uma bobagem.
Ainda assim, valeu a pena ter assistido.
Por três motivos.
Além de me prender na tela da TV, o filme me agradou pela boa atuação de Jim Carrey (distante do chato comediante de costume), pela excelente fotografia e iluminação e pelas seguintes frases que encerram a história:

"Não existe um destino.
Existem só diferentes opções.
Algumas escolhas são fáceis.
Outras, não.
Essas são as mais importantes.
Aquelas que nos definem como pessoa."

É mais ou menos isso.
É aquela questão das "escolhas" sobre a qual já escrevi aqui no blog.
Acredito que o nosso destino é desenhado por nós mesmos todos os dias, todas as horas, em cada ato, em cada tomada de decisão ou escolha do caminho a seguir.
Sem essa de dizer que já nascemos com o nosso destino "traçado". Muitos se utilizam desse conceito para justificar tudo o quanto é possível em suas vidas.
Penso que não é por aí.

Quanto ao número 23, se pararmos para pesquisar com paciência, acharemos inúmeras coincidências na história ou no nosso dia a dia com este ou com qualquer outro número.

Um outro filme que vi, e este sim uma excelência, foi "Perfume - A História de um Assassino".
Este thriller é a tradução para o cinema do livro homônimo escrito por Patrick Suskind e que eu já havia lido muitos anos atrás.
O livro, considerado obra-prima, é citado como um dos mais importantes romances bestseller da década de 1980.

Já havia gostado muito do romance e me encantei com o filme apesar de ele não conseguir revelar as minúcias presentes no livro.
Lembro que, quando li o livro, escrevi para alguns amigos dizendo que assim como o protagonista daquela história, eu gostaria de colecionar os seus perfumes para poder tê-los comigo para sempre.
À primeira impressão, a história de Grenouille parece bem estranha e sem sentido, apesar de intrigante. O cara nasce sem cheiro próprio num ambiente fétido e agressivo, e com um olfato incrível capaz de sentir e identificar o aroma de todas as coisas no mundo. Cresce alheio e indiferente a tudo e tem como única realidade o universo de aromas à sua volta que dá sentido à sua vida e o faz partir em busca do perfume ideal e de uma identificação para ele mesmo.
Na verdade, a história que o autor quer revelar está embutida na grande metáfora que é o "Perfume".
A trama se passa numa Paris imunda em meados do século XVIII.
Naquela época o homem francês vivia em estagnação sob o domínio e a opressão do Estado "aliado" à arrogância da igreja católica. Enquanto isso, boa parte da Europa já saboreava a "Idade da Razão" que trazia profundas mudanças no pensamento, nos valores e nas idéias sob a clara luz do Iluminismo. Este conceito trazia em si as idéias de progresso e da defesa do conhecimento racional como um meio para a superação dos preconceitos e ideologias tradicionais. Um dos frutos dessas mudanças para a França foi a Revolução Francesa, considerada uma das mais importantes na história da humanidade. Com ela o antigo regime foi derrubado acabando com a autoridade do clero e da nobreza.

Este período foi marcante e fundamental para todo o pensamento e desenvolvimento ocidental. O homem deixaria de lado o medo das superstições e do desconhecido e se abriria para o novo, para o inexplorado, transformando o mundo.

No filme, Grenouille é o espelho do próprio Iluminismo com sua busca incessante pelo perfume perfeito através do conhecimento, simbolizando assim o domínio da razão sobre o animal até então dominante dentro de cada ser humano. Grenouille sai do nada e consegue através do conhecimento subjugar a todos, incluindo aí o decadente Estado e a igreja católica.
O final antropofágico é trágico para o personagem porém totalmente simbólico para toda a história.
O filme é também uma aula de história quando retrata com perfeição os costumes e o panorama daquela época e todas as mudanças que ela promoveu na humanidade.
Fora isso, há também a excelência no figurino, na fotografia, nos cenários, na trilha sonora, nas interpretações (Dustin Hoffman dá um show) e na direção.
É um belo filme com sutilezas presentes em toda a história.
Recomendo a todos.

Doug
Nada como Viver
20 de Dezembro de 2011