quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

FRAGILIDADE E INTENSIDADE



Eu nunca gostei de ir a hospitais e a algum tempo não faço isso a não ser para os meus check-ups anuais.
Não tenho medo algum da morte, mas tenho pavor de ficar doente e impotente numa cama.
Só de pensar nisso, chego a estremecer.
Na semana passada, fui até ao hospital Vila da Serra aqui em B. Hte. visitar um amigo irmão que sofreu um infarto.
Já cheguei lá meio fragilizado, pois gosto muito desse meu amigo e a notícia de que ele havia sofrido um ataque do coração pegou a todos de surpresa.
Família e amigos, todos tomamos um grande susto.
Além de ser um atleta e de não ter históricos de doenças cardíacas na família, esse amigo nunca fumou e tem hábitos saudáveis como dieta equilibrada e um rotineiro check-up semestral.
Quando entrei no hospital e fui andando até o quarto na UTI, parecia que eu estava assistindo um filme em câmera lenta.
Pacientes passavam em macas, outros se encontravam em macas estacionadas no corredor do hospital: médicos e enfermeiros sempre com pressa entrando e saindo dos quartos; rostos tristes e preocupados de pessoas certamente à espera de algum parente ou amigo internado, olhavam pra mim, e minha mente ia reagindo a tudo aquilo.
Cada segundo parecia durar horas.
Estava assistindo a tudo, mas ao mesmo tempo, parecia que eu estava em outro lugar.
Parecia que eu não estava ali, uma sensação muito estranha.
Ver semelhantes naquele estado é algo que eu nunca gostei.
No fundo rejeitamos aquela condição e no nosso dia a dia sempre achamos que não iremos parar ali.
Mas na verdade é que estamos bem mais próximos do que costumamos imaginar.
Basta um segundo e algo de ruim pode acontecer a qualquer um de nós.
E lá estaremos.
Na antessala da UTI encontrei com parentes do meu amigo e aos poucos fui saindo daquele estado estranho.
Entrei no quarto.
Durante o pouco tempo em que fiquei lá, estive tonto e me controlando para manter o domínio sobre o que eu falava e ouvia.
Não sei como permaneci em pé.
De vez enquanto em algumas situações isso acontece comigo.
Não sei de onde vem, mas sinto que é algo espiritual, e por ser assim não me incomodo.
Brinquei com ele, contei minhas novidades, perguntei como aconteceu tudo, mas não conseguia parar de imaginar como ele deveria estar se sentindo deitado ali.
Já passei por isso quando uma vez desmaiei em casa e precisei passar a noite no hospital (apenas uma noite)
É uma sensação máxima de fragilidade, impotência e solidão.
Ali você está entregue realmente ao acontecimentos, à sua sorte.
Ali você pensa nos seus planos nos projetos inacabados, nas pessoas que ama, nos amigos e nos inimigos.
Pensa na sua vida.
Apesar de angustiante, um momento dessa natureza é um grande momento.
Muitas coisas mudam de valor pra você.
Quando entende que poderia ter morrido ou que chegou bem próximo do fim, tudo passa a ter outro sentido.
Obviamente, só entende isso quem já passou por tal situação.
E olha, que mesmo assim, ainda esquecemos disso na rotina dos nossos dias.
Como seria bom se o domínio da ciência dessa situação fosse emplacado em todos nós.
Seríamos tão diferentes...
Diego, desejo uma rápida recuperação a você.
Que você retorne logo para o nosso convívio
Sei que está aprendendo com esse momento e isso é muito bom.
Também aprendo e reafirmo aqui pra mim a certeza de que devemos viver cada instante no máximo grau de intensidade, dando importância ao sentimos e não ao que os outros acham ou pensam sobre nós.

Um beijo do amigo que te ama e torce por você!

Doug

Agora a resposta do meu amigo Diego, que leu esse post hoje ainda na cama do hospital. Ele me mandou via e-mail:

"Li sua mensagem... Voltei a ler inúmeras vezes!!!
Em todas eu me emocionei muito, sem poder...
Meu coração já não é o mesmo (risadas entre lágrimas!!!)
Porém tenho fé que manterei todos os meus amores, todos os valores e todas as coisas boas...
As coisas ruins "morreram" no domingo (02/01) pela tarde quando me enfartei.
"Morreram" junto com a parte do meu coração que se foi.
Nunca pensei em passar por essa situação, porque realmente sou cuidadoso, mas já que passei, obrigo-me a ser melhor do que tento ser.
Melhor filho, melhor irmão, melhor tio, melhor amigo, enfim, uma PESSOA MELHOR, inclusive pra mim mesmo.

OBRIGADO!
Meu "NOVO" coração certamente reconheceu sua AMIZADE de sempre, o seu AFETO.
Tenho a convicção de que sua presença aqui na UTI será parte essencial do meu "retorno".
Aquela porção espiritual que lhe assedia é um dom que DEVE ser compartilhado, pois manifesta o seu "EU DIVINO". Pense nisto.
"Tentarei manter viva esta nova realidade que pensei não existir."

Diego Alves


Doug
Nada Como Viver!!!
14 de Janeiro de 2010