sexta-feira, 22 de outubro de 2010

- JOSÉ DE ABREU -

José de Abreu

Oi, Zé

Porque você me chamou de burro, amigo?
Porque falou de mim com tanta ferocidade e asco, se nunca lhe fiz nenhum mal, pelo contrário, sempre lhe quis tanto bem? Porque me ofendeu, Zé?

Ofendeu porque eu, assim como mais de quarenta e três milhões de brasileiros, optei por votar em Serra no segundo turno. E você disse que quem vota no Serra é burrinho, é quem nunca foi ao teatro, nunca leu um livro, não entende nem de política nem de cinema e só assiste filminhos burgueses capitalistas de Hollywood de merda.

Assim você me magoa, Zé.

Mas, olha Zé, eu não me sinto nem um pouco próximo desse perfil preconceituoso e tosco que você traçou pra me definir e definir pessoas que, como eu, democraticamente, não optaram pela Dilma.

E outra coisa, Zé. Não foi por falta de conteúdo que eu decidi votar no Serra. Ao contrário.

A bem da verdade, primeiro escolhi Marina.

Mas agora, no segundo turno optei pelo Serra.

Justamente pelo fato de eu ter lido muito, ter ido muito ao teatro e ter assistido muitos filmes, inclusive o “O PREÇO DA PAZ”, do qual você participou e teve roteiro escrito pelo Walter Negrão, o mesmo que hoje escreve o roteiro de ARAGUAIA, novela global.

Ah, sim, Zé. Desculpe. Eu esqueci que a Rede Globo é aquela emissora maldita que exerce sua soberania execrável sobre os tolos brasileiros burrinhos que não leem nem assistem teatros ou filmes, e se entorpecem com suas novelas globais e seu jornalismo cheio de factoides.

Curioso que quando eu fui andar na rua e comentei com algumas pessoas que estava sentido porque um ator que eu admiro tanto, que tenho tanto carinho, que é você, Zé, me chamou de burro, (a mim e a mais de quarenta milhões de brasileiros), me perguntaram: “Quem é José de Abreu?”. Aí eu respondia: “Aquele que fez o Menino da Porteira, sabe?”. E ninguém sabia.

Mas, Zé. Quando eu dizia que você era o coroa gordinho careca e pançudo pintado de Timbalada em Caminhos das Índias, aí todo mundo sabia quem era você! E, Zé, acredite em mim, cara! Assim como eu, todo mundo, no Brasil inteiro, te ama. Todo mundo tem a maior simpatia por você.

O Brasil aprendeu Zé, a te adorar. A adorar seu sorriso, sua alegria, seu talento, seu jeito fabuloso e com tanta personalidade de interpretar e representar papéis.

O Brasil aprendeu a te admirar. Tudo bem que isso se deve, em grande parte, a sua popularidade conquistada devido a sua exposição nessas novelas imperialistas da maligna Rede Globo, Zé, aquele órgão de mídia que, assim como outros, você fala com tanta convicção que precisa e que necessita de controle, de supervisão e orientação do estado. Para o “bem da nação”. Para o desenvolvimento de um Brasil moderno, poderoso.

Sei não, Zé, mas eu chamo isso de censura e autoritarismo. Inclusive acho meio perigosa essa história de órgão de governo se predispor a regulamentar manifestações, opiniões e informação. Mas respeito sua opinião contrária, Zé. Entendo seu desejo de que o Brasil se torne uma república influente, prestigiosa, livre e democrática como sei lá, a Venezuela.

Inclusive procurei no Google, por sua sugestão, sabe, pois estudei inglês tempo atrás, informações sobre a regulamentação na mídia nos países mais desenvolvidos do mundo. Sabe Zé, não gostei muito do que vi não, bicho.

Vi a China, a Coreia do Norte, o Irã, a Venezuela, o México, a Argentina, esses sim decididos a regulamentarem a mídia. Em outros países, nos mais democráticos, a liberdade de imprensa não é assunto discutível. E ponto final. Cada um que se sentir ofendido que entre com uma ação e prove o contrário.

Apesar de você considerar que minha opinião contrária à sua é um ato de extrema ignorância e sem valor de minha parte, respeito seu direito de não concordar comigo. E não te acho burro, pelo contrário, te acho extremamente inteligente.

Quer saber Zé? Te admiro, e muito. Te acho um ator sensacional e extremamente talentoso.

Vejo muitos artistas, personalidades, empresários, jornalistas e amigos que admiro tendo uma opinião contrária a minha. Não deixarei de admirar nenhum deles por conta das suas opiniões diferentes das minhas. E tampouco os chamarei de burros por pensarem diferente de mim. Mas fico chocado como muitos deles, amigos, inclusive, só faltam cuspir em meu rosto porque não optei pela candidata deles.

Essa forma de manifestar paixão me assusta. Paixões são perigosas. Tá faltando espelhos na casa de um bocado de gente. Sabe aquela história de apontar os dedos e esquecer que quando você aponta um, quatro dedos se voltam contra você? Não gosto de lembrar de muita coisa na história deste país, mas gosto de lembrar com alegria de muita coisa boa que conquistei vivendo nele.

Sabe uma coisa boa que me lembro Zé? Lembro-me com muita felicidade do dia em que você, com seu sorriso largo e empolgação contagiante subiu no trio do Jammil aqui em BH no Belô Elétrico enquanto eu ainda como D.J. me apresentava no camarote oficial do evento e você pôs-se a tocar percussão com a banda, enquanto a gente (Músicos e D.J.) contratados para animar o evento desempenhava a nossa função no corredor e nos camarotes da folia, em meados de 2002. Você foi um dos artistas convidados a participar da festa.

Foi com tudo pago, lembra?

Lembra como você se divertiu Zé? Depois foi para a festa de encerramento do Belô Elétrico que foi promovida apenas para convidados em uma casa noturna aqui em BH. Saiu abraçando todos que estava lá inclusive eu, tirou fotos. Lembra? Lembra nada né?

É que alguns desses artistas convidados e contratados pelo evento às vezes se empolgavam demais, depois de algumas doses a mais, e, como você, acabavam subindo nos trios e se divertiam pra valer, dançando e cantando com os artistas baianos aquela famigerada música axé. Essa sub-música burguesa capitalista medíocre.

Curioso que quando se trata de música popular, as que surgem realmente através do povo, das ruas, das manifestações espontâneas populares, como o pagode, sertanejo, axé, forró, Calypso, brega, reggae, lambada, são compreendidas e interpretadas como músicas medíocres. É que eu esqueço que o povo, o povão mesmo, ouve mesmo é Chico Buarque.

Não entendi uma coisa Zé, você disse que o ignorante, o iletrado, o sem escolaridade é quem vota no Serra. Levando-se em conta os números desta eleição, que aponta que os eleitores dos estados mais desenvolvidos do país, sul e sudeste, onde a educação é melhor oferecida para a população, votaram em Serra, ficando o nordeste, o norte e o centro-oeste pras contas de Dilma, esse fato não enfraquece sua teoria de que quanto menos instruído, mais se vota em Serra? Posso estar equivocado Zé, mas percebo uma contradição aí.

Mas concordo com você quando diz que as pessoas que se interessam pelo voto do menos esclarecido quer manter as coisas como estão.

Enfim Zé, despeço-me oferecendo minha cara a tapa e minha cabeça aos rolos de fitas crepes e bolinhas de papel.

Não vejo nenhum santo em nenhum dos lados.

Não esqueço o famigerado segundo mandato de FHC. Também não esqueço o plano Real. Não esqueço o impeachment de Collor. Aquele que posa abraçado ao lado de Lula e Sarney nas fotos de Dilma neste ano. Também não esqueço os Renans, os Roriz, os Arrudas, enfim, não esqueço grandes nomes deste país. Serra representa essa corja? E que corja diferente Dilma representa?

Fico tonto vendo a quantidade de ofensas vomitadas, cuspidas, arremessadas por ambos os lados. Bolinhas de papel e fitas crepe com venenos exageros pra todos os lados.

Uma disputa nojenta, eleitoreira, administrada, conduzida por marqueteiros. De ambos os lados. Vejo um sorriso estranho em Dilma, mulher bravia, forte, que eu, de certa forma, admiro. Dilma lembra mulher retada. Forte, dura. Tem algo de nordestino nela. Esse pai búlgaro dela pra mim pulou a cerca na Paraíba.

Só não consigo é crer nela. Posso estar equivocado e julgar mal sua capacidade. Mas se equivocar é qualidade dos que optaram por algum lado. Os que ficam em cima do muro, estes não cometem equívocos. Nem acertam nunca.

Torço pelo Brasil de Serra. Pelo Brasil de Dilma.

Torço pelo Brasil de Serra. Homem que acho estranhamente simpático. A sua falta de carisma é tão comovente que dá vontade de gostar dele. Mas simpatia não é à base do meu julgamento eleitoral. É capacidade. E acho o Serra mais capaz que Dilma.

Mas torço também pelo Brasil de Dilma: Caso seja eleita, que meus medos sejam apenas isso: medos. E depois que vi 33 chilenos sorrindo para o mundo como se nada tivesse acontecido depois do que eles passaram bicho, tenho vergonha de dizer que tenho medo de algo. Os elevadores dos prédios antigamente me metiam medo antes. Agora acho aquilo uma nave espacial de última geração.

Enfim… Acredito na democracia. Acredito no Brasil. Porque acredito no povo brasileiro. De burro esse povo não tem é nada. Muito pelo contrário. É justamente pelo excesso de espertalhões que andamos menos velozes do que deveríamos.

Mas fazer de pessoas que escolhem diferente de você inimigos, brigar, ofender, diminuir, humilhar alguém por conta desses vermes que estão lá onde deveria estar pessoas decentes, que somassem capacidade, com conteúdo e boa fé, é que pra mim é burrice.

Fazer inimigos por causa de Sarney? Collor? Serra? Lula? Dilma? Zé Dirceu?

Em eleições, amigos, temos que discutir ideias. E não dirigir ofensas. Se a unanimidade é burra, o equilíbrio de forças não pode ser tão estúpida assim.

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Sei que vou ser xingado, humilhado, diminuído, vilanizado, vulgarizado pelos incapazes de compreender que o exercício da democracia começa com o direito de cada um escolher seus governantes. Sem ofensas, apenas exercendo o direito legítimo de optar.

Sei que por conta deste texto e da minha escolha que é, nada mais, nada menos, simplesmente diferente da sua escolha, da de Chico Buarque, da de Alceu Valença, dos maravilhosos rapazes do Teatro Mágico e de tanta gente que eu admiro, amo e respeito, serei alvo de palavras duras, como as suas quando me chamou de burro. A mim e a milhões de brasileiros.

Mas deixo aqui meu recado, Zé: As pessoas não são burras por pensarem diferente de você.

Posso até perder o seu respeito como ser humano.

Mas não perderei, jamais, minha dignidade e direito de escolher votar em quem eu acredito ser melhor ou menos pior para o NOSSO país. E não o país do PT.

Outra coisa, Zé:

O Zé que me mete medo de verdade não é você.

É aquele outro, sabe?

Beijos.

ps: VOTEI EM LULA EM TODAS AS ELEIÇÕES EM QUE USUFRUÍ DO MEU DIREITO, MESMO QUE OBRIGATÓRIO, DE VOTAR.

E NUNCA – NUNCA – ME SENTI MELHOR OU MAIS INTELIGENTE DO QUE OS QUE VOTARAM EM COLLOR, FHC E EM FHC DE NOVO.

MAS ACHO QUE ALGUNS CAMINHOS MUDARAM… E QUERIA MESMO ERA UM SEGUNDO TURNO ENTRE DILMA E MARINA.

IA SER LINDO.

CHICO DE UM LADO, CAETANO DO OUTRO…

E ESSE PAPO DE ESQUERDA-DIREITA ACABAVA. DISCURSO ZUMBI, SEM SENTIDO.

POLÍTICA É A ARTE DE CONVENCER. ESTOU CONVENCIDO DE QUE QUERO QUE ESSAS ELEIÇÕES ACABEM.

JÁ PERDI AMIGOS DEMAIS ATÉ AQUI. SINTO FALTA DE TODOS ELES. POR CONTA DE DILMA E SERRA.

NO DIA QUE ELES DESCOBRIREM QUE NÃO SER DILMA NÃO QUERIA DIZER NÃO SER ELES, ESTAREI AQUI.

NO MESMO LUGAR.

E AS FARRAS ESTARÃO NO MESMO LUGAR DE SEMPRE. DOIDAS PRA SEREM CONSUMIDAS POR ELES. POR NÓS…

BJSSSS

LINK SOBRE A MOTIVAÇÃO DESTE POST: http://www.youtube.com/watch?v=Nsd7E0NgcA8

Como diria o coroa simpático, gordinho e careca pintado de Timbalada em caminho das Índias…

NAMASTÊ

Doug
Nada Como Viver!!!
22 de Outubro 2010