terça-feira, 26 de outubro de 2010

- CADA UM NO SEU QUADRADO -

Se tem um programa que eu me amarro e não dispenso nunca, é reunir amigos pra jogar conversa fora. Há quem diga que não sai "nada que preste" em rodas de conversa assim. Eu, por experiência própria, discordo.

Não vou negar que falamos muita besteira, ainda mais se essa conversa for em torno de uma mesa regada de cerveja, a afins. Falamos da vida dos outros, quem tá comendo quem, putaria, contamos piadas ridículas e fazemos trocadilhos infames. Mas, como tudo na vida, tem seu lado sério. E eu adoro essas "filosofias de buteco", primeiro, porque a quase totalidade dos bêbados não consegue mentir e, segundo, porque o ambiente nos permite viajar nas ideias e eu acabo escrevendo sobre o que foi discutido aqui no blog, dias depois.

Sexta-feira passada (22/10), fomos pra um barzinho após ter tocado aqui em BH. Eu e uma galera dos músicos da minha banda, incluído algumas pessoas da produção, técnica, tinha dois dançarinos também. Apesar do nosso contato na música, procuramos sim ter um contato fora dela em programas assim ou de outras formas, mantendo os laços que foram criados ao longo dos shows que fazemos por ai. Eu gosto disso. Apesar de cada um ter a sua vida paralela e termos a música como algo em comum, a amizade continua. Mas enfim, esse não é o assunto.

Entre uma cerveja e outra, um refri e outro, várias pautas em questão. Eis que a gente decide pedir um tira-gosto e o garçom chega com o cardápio.

_ Oba, bolinho de bacalhau! - grita o primeiro.
_ Não, eu não como bacalhau. Vamos de picanha? - alguém discorda.
_ Não, não quero churrasco. Vamos pedir só a porção de fritas mesmo. - um terceiro dá o palpite.
_ Ah, queria algo mais molhado... Um caldo, sei lá!
_ Já sei, vamos pedir um quarto de cada prato. - sugere um outro - Cada um come o que quer e ficamos todos satisfeitos.
Um silêncio toma conta da mesa.
_ É, gente... - se justifica - ...em casa é uma TV pra cada um. Por que no barzinho não pode ser uma comida pra cada um?

Acabamos entrando num consenso e pedindo um prato único, mas esse assunto ficou martelando na minha cabeça levemente alcoolizada. (sim, nesse dia eu tomei umas, porque eu também sou filho de DEUS). De certa forma, ele tinha razão. Não que a gente precisasse pedir porções individuais, mas sobre a individualidade que os dias de hoje nos empurra goela abaixo.

Talvez pela diversidade de opções ou pelos gostos cada vez mais variados, a gente tem se afastado uns dos outros, até mesmo dentro de casa. Ou talvez pela facilidade de se adquirir um bem, sei lá... Um quer assistir a novela, outro o seriado e o outro o reality show. Não há brigas: cada um assiste em sua própria TV, trancado no quarto. Quando cada casa só tinha um aparelho de televisão, todos se reuniam na sala e, como aconteceu no barzinho, entravam num consenso e assistiriam o que a maioria preferisse. Tudo bem que, ainda assim, não havia diálogo durante a programação e assistiam todos mudos, feito gado sendo tocado pelo boiadeiro, mas estavam ali, juntos.

É o preço que se paga pelo desenvolvimento. Hoje é cada um com sua TV, seu notebook, seu iPod no ouvido, seu livro... Cada um com seu cada um. Cada um no seu quadrado. E viva a filosofia de buteco!


Doug
Nada Como Viver!!!
26 de Outubro de 2010

P.S.¹: Tava pensando em escrever sobre as drogas, inspirado no carinha que matou a amiga sufocada no Rio de Janeiro, no ano passado. Mas sei lá... Acho um assunto muito baixo astral. Eu fico triste com notícias assim, de verdade. E o pior: a maioria das pessoas sempre acha que acontece com o vizinho, mas nunca com elas mesmas. Será? Enfim...