quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

TEMPO



Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou o Mister Imperfeito, muito prazer. Um imperfeito que faz tudo o que precisa fazer, como bom profissional, bom músico, filho e homem que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, às vezes caio na balada, viajo para fazer shows, toco em missas e ministro louvores. Decido o cardápio das refeições diárias, telefono pra minha mãe todos os dias, procuro meus amigos, namoro, vou ao cinema, teatro, shows, pago minhas contas, respondo toneladas de e-mails e perguntas no formspring, faço revisões no dentista, cheqk-up anual da minha saúde, às vezes faço caminhada, participo de eventos e reuniões ligados a minha profissão e ainda faço barba dia sim, dia não! E, entre uma coisa e outra, escuto música e toco algum instrumento.
Portanto, sou ocupado, mas não um workaholic.
Por mais disciplinado que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
-Primeiro: a dizer Não
-Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, alias.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclui em minha lista também a Culpa Zero.
Quando eu nasci, nenhum profeta entrou na sala de parto e me apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento eu seria modelo para os outros.
Meu pai e minha mãe, acredito eu, não tiveram essa expectativa: tudo que me desejaram, eu acho, era que eu não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.
Eu não sou Jesus Cristo, sou humildemente um ser humano.
E se eu não aprender a delegar, a priorizar e a me divertir, bye-bye vida interessante.
Porque vida interessante não é ter agenda lotada, não é ser sempre politicamente correto, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para mim a falsa impressão de ser indispensável.
É ter tempo:
Tempo pra fazer nada e pra fazer tudo.
Tempo pra dançar sozinho na sala.
Tempo pra bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo pra sumir dois dias com meu amor um dia, ou melhor, três dias, ou cinco...
Tempo para uma massagem.
Tempo para ver uma novela.
Tempo pra receber aquele meu amigo que não vejo faz tempo...
Tempo pra fazer um trabalho voluntário.
Tempo pra procurar algo novo pro meu quarto.
Tempo pra conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Tempo pra escrever um livro que eu nem sei se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para eu descobrir que eu posso ser perfeitamente organizado e profissional sem deixar de existir.
Porque minha existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade memorando virtuais que atolam minha caixa postal
Daí eu penso:
Existir, a que será que se destina?
Cheguei a conclusão que se destina a ter tempo a favor, e não contra.
Acho que o ser humano moderno anda muito antigo.
Hoje, acreditamos que, se não formos super, se não formos mega, se não formos um executivo ISO 9001, não seremos bem avaliados. Estamos tentando provar não-sei-o-que, pra não-sei-quem.
Precisamos respeitar o mosaico de nós mesmo, privilegiar cada pedacinho de nós.
Se o trabalho está sendo um pedação na nossa vida, ótimo!
Acho que não há nada mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
A pessoa que se sustenta fica mais sexy, e muito mais livre pra ir e vir.
Desde que lembre-se de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão, vira escravidão.
Desacelerar a nossa vida, às vezes tem um custo.
Talvez seja necessário abrir mão de algumas coisas como carro de luxo, vida de rei ou rainha, roupa de grife e tênis de marca.
Mas, pense: se você precisa vender a alma ao diabo pra ter tudo isso, francamente, acho que está na hora de rever seus valores.
Talvez um passeio de ônibus até o parque municipal (tudo bem, esqueça o ônibus e vá em um carro de ano 2000) mas, ao lado de uma pessoa bacana e comer um sanduíche no carrinho de lanches seja muitos mais prazeroso e talvez possa nos dar uma nova perspectiva sobre o que é afinal, uma vida interessante.
Talvez isso seja melhor do que se matar de tanto trabalhar e morrer sem levar nada material dessa vida.

Doug
Nada como Viver!!!
25 de Fevereiro de 2010