quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

- O PERFUME DE SEIS BILHÕES -

Estou meio triste hoje por algo que aconteceu e que ainda não consegui assimilar.
Estou triste, mas muito feliz ao mesmo tempo.
Feliz porque da tristeza nasce sempre uma reflexão e da reflexão sempre surge uma nova visão e compreensão das coisas.
Comigo é sempre assim.
Estou numa fase de vida em que não cabe mais manter relações conflituosas nem no trabalho nem no universo pessoal.
Tenho enxergado as pessoas cada vez mais como pérolas que vou encontrando e guardando em um lugar muito especial. Tenho gostado muito de conhecer pessoas novas e seus universos diversos. Sempre digo que pessoas são a maior riqueza que podemos ter. E a diversidade de pensamento e comportamento é o que alicerça toda essa riqueza.
Há muitos anos assisti a um filme que muito me intrigou e que me fez enxergar de uma forma bastante heterodoxa as possibilidades dos relacionamentos de amizade e amor. O filme "O Perfume" baseado no livro de Patrick Suskins, a narrativa se desenvolve em meio a inúmeras e belas metáforas centradas num sujeito chamado Grenouille que, em busca do "perfume perfeito", mata jovens moças virgens que lhe trazem um certo interesse e as envolve com cera para posteriormente sugar-lhes a essência e o perfume vital.
Faz isso com o significado de guardar aquelas pessoas para sempre em sua vida através dos seus perfumes.

Bom, o filme é bem mais denso que isso...

Desde a época em que assisti o filme venho colecionando pessoas (perfumes).
Muitas delas eu não vejo há muito tempo, perdi o contato, mas o seu perfume (essência) continua vivo em minha memória.
Sempre busquei colecionar pessoas através das relações, das trocas.
Hoje em dia tenho feito isso inclusive nas minhas relações de trabalho e pessoais.
Atualmente isso é uma tarefa bastante difícil.
É um verdadeiro garimpo.
Como no garimpo do ouro e das pedras preciosas, leva-se um bom tempo até que se encontre uma pepita que valha a pena.
Estamos todos cada vez mais individualistas e internamente solitários, é uma verdade.
Estamos sempre com medo de abrir nossas vidas e nossos corações para as pessoas.
Estamos todos mais falsos, mais oportunistas e aproveitadores, mais interesseiros, e muito mais.
Só é olhar à sua volta.
Em qualquer lugar.
É triste mas é a realidade.
Não sejamos hipócritas.
Apesar da ciência desse fato, sempre me jogo de coração aberto pois sei que posso transformar, senão o mundo lá fora, pelo menos o meu pequeno mundinho e os que nele circulam.
Procuro ser limpo, honesto, sincero, amigo, e busco o espelho lá dentro das pessoas onde possa enxergar a reciprocidade de toda essa intenção.
Sempre que encontro pessoas onde vejo não haver esta reciprocidade eu me rendo à situação e desisto.
Desisto depois de exaurir todas as tentativas de aproximação e bom convívio.
É muito triste e doloroso precisar sumir da vida de alguém ou ter que transformar uma relação que já existe ou que se iniciou de uma forma bacana.
É triste, doloroso, mas necessário, pois o mundo e a vida moderna não nos dão muito tempo para nós mesmos.
E aí nos tornamos cada vez mais seletivos.
Pelo menos aqueles que querem aproveitar cada minuto dessa passagem aqui.
Isso as vezes tenta me desestimular a esse fadigo e árduo trabalho do garimpo.
Isso as vezes tenta me derrubar, me extrair a alegria e o ânimo.
Mas não consegue.
Não consegue pois sempre me lembro que somos mais de 6 bilhões.
E isso me alivia.
Sempre tive uma atitude bastante cosmopolita em relação à minha vida.
Sempre soube que nosso tempo aqui é muito curto.
E sempre soube que a vida é como um banquete que vai sendo servido a todo instante à gente.
Sabores, aromas, "perfumes" das mais variadas matizes.
Saboreia, prova, experimenta quem quer.
Eu sempre fui tentado a experimentar de tudo o que não me agredia.
E o fiz.
E faço!
Com todo o meu caráter e dignidade.
Quero partir daqui sem arrependimentos.
Por causa disso é que eu não fico triste num momento como esse que estou vivendo hoje.
Apenas reflito.
Não é um ambiente de trabalho, a academia onde malho, o condomínio onde moro, a cidade onde vivo que vão me impor limites nesse ofício do garimpo.
O mundo está aí!
E somos mais de 6 bilhões.
Sempre penso:
Quantas pessoas existem por aí que eu não conheço?
Quantas terei oportunidade de conhecer?
O que estou fazendo para isso?
Não preciso me prender a quem já me provou que não vale a pena.
Não preciso perder meu tempo com quem não deseja se transformar, melhorar, crescer como ser humano.
É isso.
Estou assim hoje.
Tinha um happy hour hoje após a missa que toquei, mas preferi vir embora pra casa.
Iria bater um papo com uns amigos no msn mais tarde mas desisti.
Desliguei meu celular.
Preferi ficar só e refletir.
E descansar para o dia de amanhã que tem muito trabalho e um reunião à noite.
Amanhã é outro dia e o garimpo recomeça.
Por causa disso e desse dia que tive hoje, estarei ainda mais esperançoso.
E continuo dizendo:
NADA COMO VIVER!


Doug
Nada Como Viver!!!
03 de fevereiro de 2010