segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

- Querido gay bonito, Pára que ´tá feio! -


Quem é “o gay” que vem dominando o imaginário popular?
Depois que a figura da “bichinha” foi ainda mais marginalizada, agora por um verniz politicamente correto, temos um “tipo de gay” que é mais palatável: é jovem e é bonito. Além disso, exibe dentes brancos e barriga trincada em praias europeias, usa roupas de marcas famosas, e radicaliza o conceito de “amor entre iguais” ao namorar uma cópia de si. Sério, que tipo de monstro narcisista estamos criando?

Nada contra a beleza padrão, tenho até amigos que são.
Malhado nunca fui, mas para alguns estou “no padrão” também.
Tudo bem, beleza. A gente faz o que pode. O problema é quando os “belos” usam essa suposta superioridade para diminuir os outros, e o quanto esses outros estimulam isso ao endeusar certos tipos de pessoa.
Afinal, o maior “crime” que um gay pode cometer é tornar-se algoz de seus iguais, já que na viadagem somos todos um.

Altos, baixos, gordos, magros, peludos, lisos, cabeludos, carecas, másculos, afeminados, daddies, twinks, ativos, passivos, gouines, malhados, nerds, mestrandos, doutorandos, casados, promíscuos… Tudo viado, tudo bicha, tudo boiola. Não é assim que todo “homem que gosta de homem” é chamado, não importando rótulos, auto identificação, movimentos sociais, orgulhos e armários?
Não é a homossexualidade, em sua qualidade de estigma social, que nos coloca sob o mesmo arco-íris e abaixo do ideal de masculinidade da sociedade “externa” e que se considera tão “normal”?

O problema da vez foi um comentário de Harry Louis em sua conta do Instagram. Na foto, ele e seu namorado exibiam as barrigas saradas em frente à Torre Eiffel. Ao ser questionado sobre a necessidade disso, baixou o nível falando em gominhos abdominais e chamando os outros de “pão com ovo” e “mal comido” porque né, para Harry é óbvio que uma pessoa gorda deseja ser como ele. E se diz que não, é porque não consegue.

Bicha, menos. Bem menos!

Certamente que Harry já foi alvo de algumas críticas maldosas. Seu passado como ator pornô e a antiga relação com o estilista Marc Jacobs, além do exibicionismo e do consumismo expostos em suas redes sociais já foram alvo do moralismo e talvez até da inveja de nosso “mundinho”. Como esquecer, também, de quando o “ativo bem dotado” virou motivo de chacota porque “deu muita pinta” em uma entrevista?
No fim das contas, se o cara é fútil ou não, se mostra o corpo sem necessidade, se é narcisista, se é pintudo, se é feio ou se é bonito, é tudo problema dele. Segue quem quer, bate palma quem quer. Mesmo não se tratando de uma grande celebridade, se posta algo na internet vai ser julgado pelo tribunal implacável da pós-modernidade, e obviamente que para o “gay padrão” os elementos analisados são esses signos de valor – corpo, dinheiro, pica, barba – tão aplaudidos em nossa cultura. E essa é questão.

#Reflita

Doug
Nada Como Viver!!!
28 de Dezembro de 2015